“Odre na fumaça’, é uma figura tipicamente oriental”. Odres são vasilhas feitas de couro de animal, pele de cabrito ou cabra. Camponeses asiáticos utilizam odres para guardar substâncias tanto sólidas quanto liquidas. Por segurança, os odres são pendurados no telhado ou nas paredes de suas humildes habitações. Quando o fogo é acesso nessas casas, por falta de chaminés, o ambiente se enche de negra fumaça, que envolve os odres, tornando-os escuros, encolhidos e mais firmes em sua resistência.

“Fumaça nos odres” é uma maneira de melhorar o odre, dar segurança, ao conteúdo que está em seu interior. Assim, cada vez que um humilde camponês asiático acende fogo em sua casa, os odres se aquecem.

“Pois estou como odre na fumaça; contudo não me esqueço dos teus estatutos” Sl 119:83.

Davi estava passando por um momento de angustia. Sentia o “vapor do fumo”, em seu corpo, em sua alma. Encolhia-se de aflição por causa da perseguição dos muitos inimigos. Imagino que Davi, se encolhia literalmente na presença do Senhor, em pranto, em oração com lágrimas e gemidos. Ele estava “um odre na fumaça”.

Quantos de nós nos identificamos com Davi nessa comparação? Creio que muitos. Inúmeras vezes “o vapor de fumo” invadiu minha habitação. Quando a fumaça escapou pelas brechas das portas, do telhado ou das janelas, lá estava eu; odre mais forte, com os estatutos guardados firmemente em meu coração.

Se queremos crescer na vida espiritual, experimentar da glória destinada aos santos, certamente seremos aquecidos como “odres na fumaça”. Os heróis da fé, todos eles, em algum momento de suas vidas, estiveram como Davi, encolhidos pelo “vapor de fumaça”. O profeta Jeremias certa vez declarou: "Eu sou aquele homem que viu a aflição pela vara do seu furor. “Ele me guiou e me fez andar em trevas e não em luz” Lm 3:1, 2.

Jesus sentiu “o vapor da fumaça” no Getsemani: “E posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se grandes gotas de sangue, que corriam até o chão” Lc 22:44. E o fraco, se fez forte. Enquanto o corpo sofria, o espírito se fortalecia. Jesus enfrentou a crucificação de forma digna, tornando-se o Perfeito sacrifício. Motivo da minha e da sua salvação.

Há uma primícia divina nessa analogia do “odre na fumaça”. É que só há fumaça, onde há fogo, aleluia!! “E clamavam uns aos outros dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das portas se moveram á voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça” Is 6:3, 4.

E nessa manifestação da glória de Deus, descrita pelo profeta Isaías, a fumaça aqueceu um odre, para torná-lo melhor, mais perfeito e resistente, o próprio profeta, que se encolheu de temor: “Ai de mim! Pois estou perdido, pois sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei o Senhor dos Exércitos! Is 6:5.

Isaías foi tocado nos lábios com uma brasa viva, retirada do altar que o purificou da iniqüidade, expiou seus pecados! Is 6:7. Sem fumaça, não há purificação, os odres elastecem-se, rasgam-se e ficam incapacitados de guardar os estatutos de Deus. Ele tem sempre propósitos para seus filhos, nunca os desampara. “Nada grita mais alto que o silêncio”, e no silêncio de Deus, está o seu agir. Precisamos de olhos para ver e ouvidos para ouvir o que a fumaça muitas vezes, torna nebuloso.

É importante lembrar que Davi se sentiu angustiado, porém não estava vazio, sem fé, esperança e comunhão. Odres foram destinados à utilidade, a condicionar elementos. Nós precisamos nos encher de Deus, de sua Palavra para não desanimarmos diante da “fumaça”. Precisamos nos encolher diante do Senhor como um filho no ventre de sua mãe. Ele é a Vida e através da “fumaça no odre”, nos gerará de novo para um caminho mais firme, rico e feliz.